O Bacalhau à Brás é mais do que um prato: é um evento cultural, um sprint de sabores e um um prato exótico para todos os que não são portugueses. É tudo o que não devia funcionar, e, no entanto… resulta tão bem que já devia ter um emoji próprio.

Ingredientes
- 250 g cebola 2 cebolas médias
- 15 g alho 3 a 4 dentes
- 600 g bacalhau demolhado e desfiado
- 400 g batata palha
- 6 ovos
- 15 g salsa
- 40 g azeitonas
Preparação
- Numa panela pequena cozinhe o bacalhau, nunca deixando ferver, durante 3 a 5 minutos. Use o mínimo de água possível.
- Retire o bacalhau, reservando parte da água.
- Retire as espinhas e peles, mas tente aproveitar o máximo de carne.
- Numa tigela, bata levemente os ovos.
- Numa panela grande refogue as cebolas fatiadas (meio cm de espessura) no azeite bem quente durante 10 a 15 minutos. SÓ QUANDO as cebolas estiverem amolecidas e douradas, adicione o alho picado. Se necessário use a água da cozedura do bacalhau, se as cebolas começarem a pegar no fundo.
- Após o alho estar cozinhado, retire do fogo e deixe arrefecer um pouco.
- Junte os ovos, de uma só vez, e mexa para evitar ovos mexidos. Procuramos um creme cremoso e saboroso.
- Adicione metade das batatas pequenas e deixe-as amolecer um pouco.
- Adicione o bacalhau à frigideira e mexa delicadamente. Mantenha o bacalhau o mais intacto possível.
- Quando os ovos estiverem quase cozidos, adicione o restante da batata palha e as azeitonas pretas.
- Sirva com salsa e um pouco de azeite.
Notas do Chef:
- Usem batata palha fina, e adicionem só metade no início — o resto vai no fim para manter o crunch.
- Ovos nunca em lume alto: queremos creme, não omelete.
- Se o bacalhau canta, está a ferver — e vocês acabaram de estragar 600 g de história portuguesa.
- A cebola é rainha: 15 minutos no azeite até dourar, e só depois entra o alho.
- Refoguem a cebola até ficar dourada lenta-mente: o açúcar natural trabalha por si.
- Salsa fresca só no prato. Nunca cozinhar — as vitaminas fogem e o sabor morre.
- Se quiserem impressionar, um fio de azeite verde no topo e uma gema crua extra.
Há pratos que nasceram de acidentes de cozinha. Outros nasceram de preguiça. E depois, há o Bacalhau à Brás, que é basicamente o Luxemburgo da gastronomia portuguesa — pequeno, confuso, mas com uma administração exemplar. É tudo o que não devia funcionar: batata frita de pacote, cebola que quase chora de tanto calor e ovos à beira da escramblição total. E, no entanto… resulta tão bem que já devia ter um emoji próprio.
É uma receita que começou no bairro lisboeta do Bairro Alto, provavelmente num tacho mal lavado de taberna, e que acabou a ser servida em restaurantes estrelados, reinterpretada com espuma disto e crumble daquilo. Mas a verdade é simples: nenhum cozinheiro deve morrer sem saber fazer um Bacalhau à Brás.
Vocês pensavam que fazer “bacalhau à brás” era só juntar peixe, batata palha e ovos e rezar para alguém não lhes chamar “omelete deluxe”? Pois enganaram-se.
“Um povo que inventou o Bacalhau à Brás devia estar na ONU a discutir paz mundial.”
— José Avillez, entrevista à RTP, 2021
História & cultura: quando Lisboa se apaixonou por batata palha e bacalhau
A Bacalhau à Brás nasceu no coração despretensioso de Lisboa — o lendário bairro do Bairro Alto. Hoje em dia, há quem diga que existem 365 formas de cozinhar bacalhau — uma para cada dia do ano — e a Bacalhau à Brás está no topo da tabela, com direito a capa de revista, meme e direito a lágrima de pureza gastronómica.
Reza a lenda (ou reza o Google em português antigo) que o tal Sr. Brás, taberneiro entre o Bairro Alto e a Rua Garrett, andava à rasca para vender os restos de bacalhau demolhado. O homem não sabia, mas estava a inventar um dos pilares da cozinha de reaproveitamento portuguesa — muito antes de o termo “sustentabilidade” entrar na moda das conferências TED.
Nos séculos XVII e XVIII, o bacalhau era ouro seco. Portugal importava toneladas desde a Terra Nova, e as cozinheiras sabiam que cada lasca tinha valor. O truque do Brás foi simples e brilhante: ralar, não fritar demais, e esconder as imperfeições em cebola, ovo e batata — o equivalente culinário de aplicar um bom filtro vintage no Instagram.
Hoje, o Bacalhau à Brás é presença obrigatória nas mesas portuguesas — dos casamentos aos jantares de team building. E, sejamos honestos: se isto não une um grupo de colegas de escritório, nada mais une.
Curiosidades de Nerd Gastronómico
- Em Espanha existe o “Revuelto de Bacalao” ou o “Bacalau Dorado”.
- O Bacalhau à Brás foi um dos primeiros pratos portugueses exportados via TAP nos anos 60, em versão “meal prep” antes de o nome existir.
- Em 2023, um grupo de investigadores da Universidade do Minho estudou o impacto de substituir a batata por batata-doce — resultado: mais fibra, menos glicose, um sabor ligeiramente melancólico.
- E sim, o prato já foi servido em espuma! Ferran Adrià tentou uma “Espuma de Bacalhau à Brás” no final dos anos 90. Felizmente, a humanidade recuperou a crocância.

Porque o Bacalhau à Brás funciona
É um trifecta perfeito: textura, sabor e conforto emocional. Nós, no workshop WEAT, vimos pessoas que entraram a medo — “eu só como frango grelhado” — saírem do “bacalhau à brás” com lágrimas nos olhos… de alegria. A regra é simples:
- Cebola caramelizada que traz doçura.
- Ovos cremosos que colam tudo.
- Batata crocante que faz o cérebro acreditar que está a mastigar prazer direto.
- Bacalhau salgado que ativa as papilas gustativas como uma pequena descarga elétrica.
É arquitetura sensorial pura. E quando terminamos o prato, percebemos porque é que Portugal conquistou metade do Atlântico armado com panela e azeite.