Adaptámos o Creme de castanhas com espinafres para os nossos workshops porque sopa não tem de ser um tédio aguado nem um castigo dado pela avó. Este creme de castanhas e feijão branco com espinafres é basicamente um abraço de floresta outonal servido em taça.

Ingredientes
- 500 g feijão branco já cozido, pode ser de lata se não tiver tempo para demolhar
- 350 g castanhas podem ser congeladas, se não tiverem tempo para demolhar
- 100 g cebolas
- 25 g alho 4 dentes
- 10 ml azeite
- 10 g sal
- 1 L água
- 5 g tomilho
- 300 g espinafres
Preparação
- Deixe as castanhas congeladas de molho durante 2 horas. Se forem frescas, deixe de molho de um dia para o outro.
- Num tacho com um pouco de azeite, refogue a cebola picada grosseiramente.
- Quando a cebola estiver dourada adicione o 2 dentes alho picado.
- Pique em pedaços 4 castanhas cruas e reserve para o fim.
- Adicione as restantes castanhas à panela, tempere com sal e cubra com água quente.
- Adicione um pouco de tomilho e deixe ferver até ficarem completamente cozinhadas.
- Enquanto as castanhas cozem, numa frigideira salteie o restante alho, junte os espinafres e tempere com sal e pimenta.
- Quando as castanhas estiverem totalmente cozidas e macias, adicione o feijão cozido e deixe cozer em lume brando durante mais 5 a 10 minutos. Tenha cuidado para não deixar o feijão agarrar ao fundo da panela.
- Num processador de alimentos triture as castanhas e feijão. Prove e corrija sal.
- Num prato fundo sirva a sopa e depois um pouco dos espinafres e as castanhas picadas por cima. Regue com um pouco de azeite e junte um pouco de tomilho fresco.
Notas do Chef:
- Demolhar bem as castanhas suaviza o amido e previne grumos. Uma pitada de sal e, para ousadia extra, uns paus de canela ou erva-doce na água do cozimento – aroma etéreo sem ser intrusivo.
- Antes de triturar, reservem algumas castanhas inteiras e laminadas – crocância e surpresa sensorial no empratamento.
-
Refoguem as cebolas e alho no azeite, sem pressa. Vamos caramelizar, não queimar.
-
Tomilho fresco só no fim, nunca logo no início, para preservar óleos essenciais e garantir aromas frescos no nariz de quem prova.
-
Espinafres apenas salteados, nunca cozidos demais. Um salteado rápido preserva verde-vivo, textura quase crocante, e vitaminas inteiras.
-
Temperem com flor de sal e pimenta-preta moída na hora no último segundo antes de sair da frigideira
Da Pré-História ao Tacho: História & Cultura
Vamos ser sinceros: castanhas eram o segundo pão da pobre da Península Ibérica, antes da batata meter cá os tubérculos no século XV. Antes da batata invadir a Europa, era às castanhas que íamos pedir colo nos meses frios. Encontramo-las na nossa tradição desde sempre — dos magustos às sopas grossas, passando por cremes que aquecem as raizes. Os romanos chamavam-lhe glans terrae — “bolota da terra” — e metiam-nas em tudo. Há registos medievais de cremes de castanha, papas de castanha e até pão de castanha.
O Creme de castanhas com espinafres é receita revivalista com pedigree medieval. De Trás-os-Montes à Beira, passando por todo o norte de Espanha, há variações desta sopa . Na Galiza chamam-lhes “cremas de castañas”, e em França não há outono sem “velouté de châtaignes”.
Em Portugal, adoramos um casamento saboroso no prato – e neste caso, as nobres espinafres juntam-se às castanhas numa relação feliz, cheias de verde e com aquela textura sedosa, digna dos melhores casamentos. O segredo está em honrarem as castanhas: deixá-las amolecer com paciência, não serem forretas no bom azeite, e servirem tudo com aquela dose de arrogância humilde típica de quem sabe comer com prazer.
Já o feijão branco? Esse maroto entrou pela porta da cozinha com as caravelas, vindo da América Latina, e rapidamente arranjou passaporte para ser estrela no cassoulet francês. Se forem pesquisar “soupe aux châtaignes et haricots blancs” vão encontrar tias francesas a fazer exatamente o nosso creme de castanhas com feijão branco, mas com mais manteiga e menos azeite.
Nós, como bons mediterrânicos com síndrome de “vamos só melhorar isto”, atirámos espinafres salteados por cima — porque verde no prato = virtude gourmet.
Sazonalidade, Mediterrâneo & Sustentabilidade (Sim, Tudo Junto)
Este creme de castanhas com feijão branco e espinafres é a prova viva de que a Dieta Mediterrânica não tem de ser uma salada com azeite com ar de superioridade moral.
É rica em leguminosas (check), frutos secos (check-ish, as castanhas não são bem fruto seco mas fingem bem), azeite (check convicto) e vegetais (espinafres para dar a ilusão de equilíbrio). A vantagem é que podemos usar feijão em lata e castanhas congeladas, que o nível nutricional é quase igual.
Sustentabilidade? Meus amigos, isto é praticamente um manifesto ambientalista em forma de colher, sem desculpas de não ser conveniente:
Feijão branco em lata — prático, circular, e 100% compatível com preguiça consciente ✅
Proteína vegetal com pegada carbónica mínima ✅
Ingredientes locais (castanhas de Trás-os-;ontes e espinafres nacionais) ✅
“Não há nada mais democrático do que uma sopa determinada: aquece todos e não faz perguntas.”
— Maria de Lourdes Modesto, ‘Sabor da Vida’
Ciência & saúde: porque o nutricionista também tem fome
Falem-nos de pratos completos! “Creme de Castanhas com Espinafres” é um festival de hidratos de carbono lentos (castanhas, que alimenta as nossas bactérias boas do intestino), proteínas vegetais e fibra solúvel (feijão branc), micronutrientes como vitamina C para absorver ferro, vitamina B6, potássio, manganês, luteína para os nerds dos fitonutrientes (espinafres). Baixo em gorduras saturadas, rico em fibra: o tédio do fecho dos intestinos de inverno já era.
Estudos mostram que dietas ricas em legumes, folhas verdes e frutos secos promovem saúde cardiovascular, baixam o colesterol e previnem diabetes tipo 2. E este creme faz tudo isso sem precisar de proteína animal (o segredo vegetariano do sucesso).
Mas mais, a castanha e feijão branco ajudam a libertar triptofano, precursor de serotonina — a hormona da felicidade.
Traduzindo para linguagem científica aplicada à vida real: este creme de castanhas com feijão branco é melhor que terapia em meses de chuva. É sopa, mas também um ansiolítico legal.
Fun facts e nerdices para impressionar no almoço de família
- Castanhas eram moeda de troca na Europa medieval e já alimentaram multidões em tempos de fome.
Em Trás-os-Montes ainda há aldeias que tratam a castanha como se fosse Bitcoin rural. - Diz que a expressão “comer castanhas assadas” era sinal de prosperidade.
- Na Córsega fazem licor de castanha. Na Alemanha fazem cerveja de castanha. Conclusão: estamos a ficar para trás, porque só fazemos sopas.
- Espinafres só ganharam fama depois da Primeira Guerra Mundial, quando o marketing internacional deu créditos ao Popeye, por um erro de cálculo nutricional.
- Azulejos do século XVIII mostram cenas de magustos e sopas de castanha servidas em grandes tachos em feiras populares portuguesas.
- Segundo a organização European Chestnut Network (sim, existe), o consumo de castanha aumenta 27% quando a temperatura cai abaixo dos 15ºC. Aqui está a meteorologia que interessa.
Porque é que esta receita funciona e conquista tantos palatos?
“Creme de Castanhas com feijão branco e espinafres” é pura alquimia sensorial: a doçura e cremosidade das castanhas, a base terrosa do feijão, o verde levemente amargo dos espinafres e o aroma fresco do tomilho criam camadas que confortam e surpreendem. A textura é rica, aveludada sem natas, e cada colher é uma festa umami (sim, castanhas têm glutamatos naturais que nos deixam felizes).
Além disso, esta sopa oferece aquele “aconchego cerebral” que só a comida tradicional consegue: evoca memórias de outonos antigos, risos à volta da mesa e o calor do tacho em boa companhia.
Descubra tudo sobre “Creme de Castanhas com Espinafres”: história, cultura, benefícios e humor numa receita sustentável e irresistível. Sopa nunca mais será igual!
Portanto, da próxima vez que vos disserem que sopa é coisa triste, atirem-lhes uma colher deste creme de castanhas com feijão branco e observem a conversão. É economia circular, dieta mediterrânica, saúde intestinal e prazer adulto — tudo no mesmo tacho.
E melhor ainda: só sujamos um tacho e uma frigideira. Porque na nossa cozinha 20% de esforço = 80% de glória.
Não digam que não avisámos: o “Creme de Castanhas com Espinafres” veio para ficar, comer, saborear… e repetir!